O amor devorou meu nome, minha vida, meu mundo. O amor devorou minha idade, minha consciência, meu agir e o meu pensar. O amor devorou minha marca. O amor veio e devorou tudo que eu escrevera.
O amor devorou minhas roupas, meus lenços, minha cama. O amor devorou todas as duas gravatas que eu tinha. O amor devorou meu único terno, os meus sapatos, o meu chapéu. O amor devorou minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor devorou todas as minhas poesias. Devorou todos os meus livros de prosa e versos. Devorou minha inspiração, as palavras que poderiam se juntar em versos.
Com fome, o amor devorou a minha casa, meu fogão, minha geladeira. Ainda com fome, o amor devorou o meu banheiro, meu shampoo, meu sabonete. Devorou minha escova de dente, meu desodorante.
O amor devorou as frutas que estavam na fruteira azul. Bebeu a água que havia na geladeira. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém sabia que estavam cheios de água.
O amor devorou o menino que outrora, escondido sobre a capa de um homem forte. Devorou as conversas, junto aos amigos.
O amor devorou o chão que me servia de sustento, devorou o horizonte que ao cair da tarde dava um belo espetáculo de cores.
O amor só não devorou a minha esperança de que sempre haverá um novo dia, e novas coisas irão acontecer até mesmo encontrar o amor que tudo devorou.
2 comentários:
amor = glutonaria...
D:
Me lembrou o poema do João Cabral: Os Três Mal-Amados. :)
"O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."
E a esperança resta, pelo menos. :)
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